
LICHAVES Basta ser sincero e desejar profundo,você é capaz de sacudir o mundo!!! Tente...
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010
Cascas e Polpas. Em cada taca de fel que a vida me deu, a última gota era de mel. No fim de cada subida íngreme que tive que escalar, encontrei uma planície verdejante. Cada amigo que perdi na neblina do entardecer, encontrei-o na luz da aurora. E quantas vezes escondi meu sofrimento e meu amargor sob o véu da resignação, acreditando que havia mérito nisso. Mas quando eu retirei o véu, achei que o sofrimento de transformara em satisfação e o amargor em alegria. E quantas vezes acompanhei meu amigo ao mundo das aparências, julgando-o rude e ignorante. Mas assim que desvendei os mistérios da vida, compreendi que era eu o agressor e ele, o sábio e o cavaleiro. E quantas vezes, embriagado de egoísmo, comparei-me ao cordeiro e comparei o meu companheiro ao lobo. Mas, quando voltei a mim mesmo, ele era homem e eu outro homem. Eu e vos, meus semelhantes, somos fascinados pelas aparências e cegos às essências. Se um de nos tropeça, dizemos “é um decaído”. Se se atrasa, dizemos “é um indolente”. Se tartamudeia, dizemos “ é um mudo”. Se suspira dizemos ”é um doente”. Eu e vós, apaixonados pelas cascas do “EU” e de “VÓS”. Por isso, não percebemos o que o espírito escondeu em “MIM” e em “VÓS”. E que podemos fazer para que nossa vaidade não nos distraia de nossa verdade? Digo que aquilo que vemos com nossos próprios olhos é apenas uma nuvem que nos esconde o essencial. E o que ouvimos com nossos ouvidos é um mero barulho que nos distrai do sentido profundo das coisas. É nossa visão que realmente vê. É nosso coração que realmente ouve. Sigamos sua orientação. Quando cruzarmos com um policial que leva um homem á cadeia, não presumamos qual dos dois é o criminoso. E quando virmos dois homens, um ensangüentado e outro com manchas de sangue nas mãos, não concluamos qual é o agredido e qual o agressor. E se ouvirmos um homem cantar e outro chorar, paremos antes de concluir qual dos dois é o mais feliz. Não, meu amigo, não ates as aparências às realidades. E não julgues da essência de um homem pelas suas palavras e seu comportamento. Talvez visites no mesmo dia um castelo e um casebre, e saias do primeiro com veneração e do segundo com comiseração. Mas se pudesses rasgar o véu das aparências, tecido por seus sentidos, tua veneração se transformaria em comiseração e tua comiseração em veneração. Talvez encontres, entre o despertar e o ocaso de te dia, um homem que fala como se a tempestade se exprimisse em sua voz e os exércitos se manifestam em seus gestos, e outro que fala com palavras tímidas e entrecortadas. E talvez atribuas o heroísmo ao primeiro e a covardia ao segundo. Mas, se os reencontrasse quando a vida os chama para enfrentar os obstáculos ou sacrifícios a um ideal, saberias que a soberba briosa não é coragem e a timidez calada não é covardia. E talvez olhes pela tua janela e vejas uma freira e uma prostituta que andam entre os transeuntes, e concluas intempestivamente: “ que nobreza naquela e que indignidade nesta!”. Mas se fechasses os olhos e escutasses o éter falar, ouvirias uma voz te dizer: “ Aquela Me procura pela oração e esta Me procura pelo sofrimento, e na alma de cada uma delas, há um refugio para Minha alma.” E talvez viajes pelo mundo à procura do que chamas de civilização e progresso e entres numa cidade feita de edifícios altos e palácios suntuosos e institutos modernos e avenidas largas, enquanto seus habitantes, vestidos com esmero, estão em movimento permanente: uns a cavarem a terra, outros a subirem no espaço, outros a dominarem o raio, outros a investigarem os ventos. Dias depois, talvez chegues à outra cidade de casas humildes e ruas estreitas, enlameada nos dias de chuva, empoeirada nos dias de sol, habitada por um povo primitivo e lento que te olha, parecendo olhar para algo além de ti; e talvez abandones esta cidade, desgostado, pensando:” a diferença que eu vi naquela cidade e nesta é a diferença entre a vida e a agonia: lá uma forca e seu fluxo, aqui a fraqueza e seu refluxo; lá uma atividade que produz primavera e verão, aqui, uma indolência que produz outono e inverno; lá, a ambição e a juventude que dança num jardim, aqui, a decrepitude é velhice deitada ao pó. Mas se puderes olhar para as duas cidades com a luz de Deus, vê-las-ias duas árvores iguais no mesmo vergel. E, meditando, talvez concluísses que o que te apareceu progresso na primavera, nada mais é que borbulhas luminosas e efêmeras, e que o que te pareceu mediocridade na outra é o reflexo de uma riqueza interior, meditativa e permanente. Não, a vida não vale pelas suas aparências, mas pelas suas essências. Os frutos não valem pelas suas cascas, mas pela sua polpa. Os homens não valem pelos seus rostos, mas pelos seus corações. E a religião não vale pelo que se manifesta nos templos e pelos seus ritos e tradições, mas pelo que se esconde nas almas e nas intenções. A arte não esta nas melodias de uma canção ou na vibração verbal de um poema ou nas cores e nas formas de um quadro. A arte esta nas distancias silenciosas e inspiradoras que separam as notas agudas e graves de uma canção e no que um poema transmite ao coração do que permaneceu inexpresso na alma do poeta. A arte esta no que um quadro nos permite imaginar para alem de suas dimensões. Não, meu irmão, as noites e os dias não estão na suas aparências. E eu que na procissão das noites e dos dias estou nestas palavras que te dirijo, mas no que minhas palavras refletem das minhas profundezas mudas. Não me consideres um ignorante até que examines essas profundezas e não me consideres um gênio antes de despir-me das minhas aparências. Não me digas: “É um generoso”, antes de compreender os motivos de minha generosidade. Não creias em meu amor até sentir-lhe o calor, e não me acuses de frieza antes de tocar minhas feridas sangrentas.
gibran khalil gibransábado, 6 de novembro de 2010
A receita para ser feliz
1. Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência. Isso inclui idade. peso e altura. Deixe o médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago.
2. Dê preferência aos amigos alegres. O“baixo-astral” puxa você para baixo.
3. Continue aprendendo. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.
4. Ria sempre, muito alto. Ria até perder o fôlego.
5. Lágrimas acontecem. Agüente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é VOCÊ mesmo. Esteja VIVO, enquanto você viver.
6. Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio.
7. Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda. 8. Viaje sempre que puder evitando viagens ao passado.
9. Diga a quem você AMA, que você realmente o AMA, em todas as oportunidades.
E LEMBRE-SE SEMPRE QUE:
A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego... de tanto rir... de surpresa... de êxtase... de felicidade!
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Mais Uma Vez
Legião Urbana
Composição: Renato RussoMas é claro que o sol vai voltar amanhã Mais uma vez eu sei Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã Espera que o sol já vem.
Tem gente que está do mesmo lado que você Mas deveria estar do lado de lá Tem gente que machuca os outros Tem gente que não sabe amar Tem gente enganando a gente Veja a nossa vida como está Mas eu sei que um dia a gente aprende Se você quiser alguém em quem confiar Confie em si mesmo Quem acredita sempre alcança!
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã Mais uma vez eu sei Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã Espera que o sol já vem.
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena Acreditar no sonho que se tem Ou que seus planos nunca vão dar certo Ou que você nunca vai ser alguém Tem gente que machuca os outros Tem gente que não sabe amar Mas eu sei que um dia a gente aprende Se você quiser alguém em quem confiar Confie em si mesmo Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança! Quem acredita sempre alcança!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Pão e circo
Ontem 31 de outubro, levantei-me cedo, triste, corpo pesado, desanimada... depois de algum tempo pensando dirigi – me ao colégio eleitoral como se estivesse sendo puxada por um guindaste,motivação ?Nenhuma!Fui por obrigação isto é: fui obrigada, claro anulei meu voto como quem estivesse anulando meus sonhos, meus ideais, FIM! Saí cabisbaixa com vergonha de mim mesma, não me interessava quem fosse ganhar, seria como se fossem trocar seis por meia dúzia. cheguei em casa tão cansada que deitei-me no sofá e dormi,quando acordei liguei a TV.Imagine o que vi?UM bando de gente tudo de vermelho pulando,gritando,pensei que eu estava sonhando com o império romano na época dos gladiadores. Olhei em volta e vi que estava em casa e não na Europa,estava no Brasil no ano de 2010, eu não sou européia ,sou brasileira e brasileiro gosta é de pão e circo.As favas com a educação,saúde,segurança,só queremos pão e circo!Brasileiro gosta mesmo é de bolsas (não é bolsa de valores).
Tudo acabou! Agora é orar, orar e orar... Para que o coliseu do nosso querido Brasil termine um dia em ruínas e que os filhos da amada pátria se libertem um dia dessas correntes.
Alina Chaves
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Autor Paulo Coelho
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
O SENTIDO DA VIDA |
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| "Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura...enquanto durar....“ (Cora Coralina) |
Mas será que a felicidade é possível? E em que termos?
As respostas são, naturalmente, desencontradas. Goethe, por exemplo, afirma que a felicidade existe mas nunca é duradoura, que muitas coisas podem durar mas nunca a contínua felicidade. É uma resposta tão consensual quanto a que o Dalai Lama dá da nossa procura e desejo de ser felizes. A dor, os medos, e a ansiedade espreitam constantemente, sempre prontas a quebrar os nossos períodos de felicidade.
Já a posição de Pascal, um pensador cristão do século dezesete, é bem menos consensual. Para Pascal a felicidade não é possível: «Não é necessário grande educação do nosso espírito para perceber que aqui não há real e duradoura satisfação, que os nossos prazeres são apenas vazios, que os nossos males são infinitos», disse.
Apesar da sua crença intensa em Deus, e ao contrário de Santo Agostinho, citado atrás, Pascal não conseguiu a paz interior, a certeza, e a iluminação. Para ele a fuga à realidade cruel do mundo era impossível, apesar das nossas tentativas em contrário. «O rei está rodeado de pessoas cujo único pensamento é divertir o rei, e evitar que ele pense em si mesmo. Porque ele será infeliz, embora rei, se pensar em si mesmo», considerou Pascal, numa linguagem em parte metafórica.
Faltou a Pascal, eventualmente, a «boa saúde e a má memória», consideradas por Ingrid Bergman como essenciais para a felicidade. A doença e a forte dor física que ela lhe provocou, podem ter pesado bastante nas suas posições, tanto quanto o questionamento que ele fez à nossa situação existencial.
Faltou-lhe também o espírito de Santo Agostinho, o convencimento e a fé militante e iluminadora, para o que muito pode ter contado a época – a ciência, no século XVII, esboçava os seus primeiros passos, o pensamento secular começava a substituir o pensamento místico que Santo Agostinho introduzira... O mundo humano começava a não ser tão ditado pela Igreja e pela fé. Em vez de um mundo que era uma emanação de Deus, a ciência estava a revelar um mundo de infinitas galáxias, incompreensível ao homem, que muito negativamente impressionou e angustiou Pascal.
No fundo, a felicidade tem também muito a ver com as nossas ideias e filosofias de vida, e Santo Agostinho e Pascal demonstram-no à saciedade. É bem evidente o impacto negativo das ideias e concepções existencialistas de Pascal sobre a sua angústia existencial. Do mesmo modo é também evidente o peso das ideias religiosas de Santo Agostinho, aparentemente não muito diferentes das de Pascal, na felicidade que ele sentiu após a sua conversão ao cristianismo.
Curioso, também, é como as ideias podem variar, e serem recuperadas ou renegadas. “Meu Deus, dai-me castidade, mas não já!», pedira Santo Agostinho, anos antes da sua conversão ao cristianismo, numa reverência aos prazeres mundanos. «Longe de mim, longe do coração do teu servo, Senhor, que a ti se confessa, a ideia de encontrar a felicidade não importa em que alegria!», considerou ele, já convertido.
As concepções de Pascal e de Santo Agostinho são também particularmente exemplificativas do fundo contraditório em que se situa para nós, seres humanos, a felicidade: os momentos de felicidade e infelicidade alternam-se, e tudo pode mudar drasticamente, de um momento para o outro, para melhor ou para pior. Ou como diz Edgar Morin: «A aptidão do homem para sofrer é comparável à sua aptidão para gozar, a sua aptidão para a desgraça é inseparável da sua aptidão para a felicidade».
Demonstram, por outro lado, que a fé em Deus não é suficiente, nem condição necessária ou única para sermos felizes. Foi-o para Santo Agostinho. Não o foi para Pascal. É algo que parece sancionar as palavras do Dalai Lama: «A chave para um mundo mais feliz é a compaixão e o amor. Não necessitamos de ser religiosos, nem necessitamos de acreditar numa ideologia. Tudo o que necessitamos é de desenvolver as nossas boas qualidades humanas.» São palavras que devem merecer a nossa reflexão.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Pediram-me que escrevesse sobre simplicidade e sabedoria. Aceitei alegremente o convite sabendo que, para que tal pedido me tivesse sido feito, era necessário que eu fosse velho. Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus vôos são flechas em todas as direções. Seus olhos estão fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes dá descanso. Estão sempre prontos a de novo voar. Seu mundo é o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabeças, a multiplicidade é um espaço de liberdade. Com os adultos acontece o contrário. Para eles a multiplicidade é um feitiço que os aprisionou, uma arapuca na qual caíram. Eles a odeiam, mas não sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos são pássaros presos nas gaiolas do dever. A cada manhã 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as agendas, lugar onde as 10.000 coisas escrevem as suas ordens!). Se não forem obedecidas haverá punições. No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só. Jesus contava parábolas sobre a simplicidade. Falou sobre um homem que possuía muitas jóias, sem que nenhuma delas o fizesse feliz. Um dia, entretanto, descobriu uma jóia, única, maravilhosa, pela qual se apaixonou. Fez então a troca que lhe trouxe alegria: vendeu as muitas e comprou a única. Na multiplicidade nos perdemos: ignoramos o nosso desejo. Movemo-nos fascinados pela sedução das 10.000 coisas. Acontece que, como diz o segundo poema do Tao-Te-Ching, “as 10.000 coisas aparecem e desaparecem sem cessar.“ O caminho da multiplicidade é um caminho sem descanso. Cada ponto de chegada é um ponto de partida. Cada reencontro é uma despedida. É um caminho onde não existe casa ou ninho. A última das tentações com que o Diabo tentou o Filho de Deus foi a tentação da multiplicidade: “Levou-o ainda o Diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória e lhe disse: ‘Tudo isso te darei se prostrado me adorares.’“ Mas o que a multiplicidade faz é estilhaçar o coração. O coração que persegue o “muitos“ é um coração fragmentado, sem descanso. Palavras de Jesus: “De que vale ganhar o mundo inteiro e arruinar a vida?“ (Mateus 16.26). O caminho da ciência e dos saberes é o caminho da multiplicidade. Adverte o escritor sagrado: “Não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne“ (Eclesiastes 12.12). Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de somas sem fim. É um caminho sem descanso para a alma. Não há saber diante do qual o coração possa dizer: “Cheguei, finalmente, ao lar“. Saberes não são lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se construir uma casa. Mas os tijolos, eles mesmos, nada sabem sobre a casa. Os tijolos pertencem à multiplicidade. A casa pertence à simplicidade: uma única coisa. Diz o Tao-Te-Ching: “Na busca do conhecimento a cada dia se soma uma coisa. Na busca da sabedoria a cada dia se diminui uma coisa.“ Diz T. S. Eliot: “Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?“ Diz Manoel de Barros: “Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar. Sábio é o que adivinha.“ Sabedoria é a arte de degustar. Sobre a sabedoria Nietzsche diz o seguinte: “A palavra grega que designa o sábio se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphus, o homem do gosto mais apurado. “A sabedoria é, assim, a arte de degustar, distinguir, discernir. O homem do saberes, diante da multiplicidade, “precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço.“ Mas o sábio está à procura das “coisas dignas de serem conhecidas“. Imagine um bufê: sobre a mesa enorme da multiplicidade, uma infinidade de pratos. O homem dos saberes, fascinado pelos pratos, se atira sobre eles: quer comer tudo. O sábio, ao contrário, para e pergunta ao seu corpo: “De toda essa multiplicidade, qual é o prato que vai lhe dar prazer e alegria?“ E assim, depois de meditar, escolhe um... A sabedoria é a arte de reconhecer e degustar a alegria. Nascemos para a alegria. Não só nós. Diz Bachelard que o universo inteiro tem um destino de felicidade. O Vinícius escreveu um lindo poema com o título de “Resta...“ Já velho, tendo andado pelo mundo da multiplicidade, ele olha para trás e vê o que restou: o que valeu a pena. “Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas...“ “Resta essa capacidade de ternura...“ “Resta esse antigo respeito pela noite...“ “Resta essa vontade de chorar diante da beleza...“. Vinícius vai, assim, contando as vivências que lhe deram alegria. Foram elas que restaram. As coisas que restam sobrevivem num lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo. É para isso que necessitamos dos deuses, para que o rio do tempo seja circular: “Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás...“ Oramos para que aquilo que se perdeu no passado nos seja devolvido no futuro. Acho que Deus não se incomodaria se nós o chamássemos de Eterno Retorno: pois é só isso que pedimos dele, que as coisas da saudade retornem. Ando pelas cavernas da minha memória. Há muitas coisas maravilhosas: cenários, lugares, alguns paradisíacos, outros estranhos e curiosos, viagens, eventos que marcaram o tempo da minha vida, encontros com pessoas notáveis. Mas essas memórias, a despeito do seu tamanho, não me fazem nada. Não sinto vontade de chorar. Não sinto vontade de voltar. Aí eu consulto o meu bolso da saudade. Lá se encontram pedaços do meu corpo, alegrias. Observo atentamente, e nada encontro que tenha brilho no mundo da multiplicidade. São coisas pequenas, que nem foram notadas por outras pessoas: cenas, quadros: um filho menino empinando uma pipa na praia; noite de insônia e medo num quarto escuro, e do meio da escuridão a voz de um filho que diz: “Papai, eu gosto muito de você!“; filha brincando com uma cachorrinha que já morreu (chorei muito por causa dela, a Flora); menino andando à cavalo, antes do nascer do sol, em meio ao campo perfumado de capim gordura; um velho, fumando cachimbo, contemplando a chuva que cai sobre as plantas e dizendo: “Veja como estão agradecidas!“ Amigos. Memórias de poemas, de estórias, de músicas. Diz Guimarães Rosa que “felicidade só em raros momentos de distração...“ Certo. Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: “É como o vento: sopra onde quer, não sabes donde vem nem para onde vai...“ Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples. (Concerto para corpo e alma, pg. 09.) |
Em busca da sabedoria
Desenvolver o que se chama de inteligência espiritual é um grande passo rumo à paz de espírito
Alcançar o sentimento de felicidade alheio às condições financeiras e circunstâncias da vida. Uma tarefa aparentemente impossível, não é? Não. Pelo menos para quem cultiva uma inteligência que vai além do raciocínio lógico, do conhecimento científico e de outros parâmetros que costumam medir o intelecto humano. Trata-se de desenvolver a chamada inteligência espiritual, uma faculdade difícil de ser alcançada, mensurada ou definida, mas que começa a ser pensada como uma ferramenta de transcendência do espírito, sustentada pela fé - seja ela religiosa ou não -, em que se percebe o quão rico é o universo e que o apego a pequenas coisas pode impedir a concretização de uma vida mais leve e feliz.
À primeira vista, parece conversa de maluco. Mas basta o convívio - ou um mero contato - com quem vive uma busca constante pelo autoconhecimento e por meios de apreciar cada detalhe da existência, para questionar esse rótulo e perceber que de loucos eles não têm nada.
Dalai Lama, Mahatma Gandhi e São Francisco de Assis são exemplos de gente que soube traçar um caminho em busca da espiritualidade. Mas não é preciso ser um mito para ser admirável. A inteligência espiritual independe de classe social, raça, religião ou profissão.
A atriz paulista Odete Lara, musa da bossa nova e do Cinema Novo, escandalizou o Brasil ao fazer sexo com Norma Bengell no filme Noite Vazia, de Walter Hugo Khoury, em 1964. Uma cena polêmica que incomodou os moralistas da época e encheu os homens de desejo. Apesar do sucesso que fazia, Odete não se sentia realizada. ''Minha vida era agitada, cheia de correria, voltada unicamente para o trabalho. Seguia um ritmo baseado na competição que normalmente impera nos grandes centros urbanos. Eu não era feliz. Só conhecia a falta de sossego e a ansiedade.''
Aos poucos, a então atriz começou a procurar outras formas de ser e de viver. Com muita leitura e travando contato com pessoas que buscavam tanto quanto ela a paz de espírito, Odete se transformou. Largou a carreira em 1974 e hoje vive em um sítio em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio. Convertida ao zen-budismo, mantém uma rotina simples e pacata, porém bem mais agradável.
''Tenho o hábito de cuidar da qualidade da minha alimentação, faço exercícios de ioga, caminho e medito diariamente'', conta.
Apenas uma coisa a entristece. ''O sistema voltado unicamente para o lucro, que reina no mundo e causa tanta injustiça e, conseqüentemente, violência. Não fosse isso, minha felicidade seria total''.
A prática da meditação realmente parece ser um grande instrumento para alcançar esse estágio de transcendência, desapego material e autoconhecimento. Mas, não é necessário ser budista como Odete para desenvolver uma ''alma inteligente''. A fé, seja em Deus, Alá ou em uma força superior ''não nominada'' leva a uma conexão com o inexplicável e ajuda o ser humano a entender o que não é palpável nem óbvio. Ajuda a preencher, por exemplo, o vazio deixado pela falta de respostas para famosas questões como ''quem somos?'', ''de onde viemos?'', ''para onde vamos?''.
''Ter fé é possuir a capacidade de lidar com a vida e com o que ela nos oferece e propõe. A gente deve aprender a apreciar isso tudo'', ensina o rabino Nilton Bonder, autor do livro Fronteiras da Inteligência - A Sabedoria da Espiritualidade (ed. Campus). Assim como Bonder, o antropólogo Leonardo Boff acredita no poder das religiões para atingir a inteligência espiritual, já que são expressões claras e ferramentas de transcendência.
''Por caminhos diferentes, todas as religiões querem dizer que o ser humano não é refém deste mundo. No Brasil, é lindo o fato de nós não nos fixamos em uma só expressão de religiosidade. Incorporamos várias, como a católica, a evangélica, a budista, a tradição afro-brasileira do candomblé, o santo daime, entre outras'', exemplifica Boff, autor de Tempo de Transcendência (ed. Sextante).
O antropólogo explica que essa transcendência é a capacidade que o ser humano tem de superar os limites impostos. Não em termos materiais, mas na construção de um pensamento infinito, que ultrapassa as barreiras. ''Esse termo define o homem como aquele que está no mundo e no universo, mas que não pode ser aprisionado. Somente o infinito sacia sua busca sem fim'', completa.
Apesar de concordarem com o papel positivo que a prática religiosa pode desempenhar na busca pela espiritualidade, Leonardo Boff e Nilton Bonder alertam para o risco da má interpretação ou da ignorância. ''Todas as religiões incorporam não apenas limitações, mas também equívocos e erros. Por exemplo, dificilmente se nota a espiritualidade numa religião que rebaixa a mulher ou despreza minorias, como os homossexuais. Devemos sempre, a partir da transcendência, submeter todas as religiões a uma crítica severa. Verificar se elas favorecem esta experiência ou se a dificultam'', ressalta Boff, expulso da Igreja Católica por ir de encontro a certos paradigmas da instituição.
Bonder também faz seu alerta. ''É preciso ter cuidado com as tradições religiosas, porque elas também podem ser uma forma de preencher a ignorância apenas para gerar dominação e superstição'', pondera o rabino.
Ma Prem Achala, que se chamava Rosana San Juan e era uma típica workaholic, parece já ter entendido esses recados. Se durante uma época ela foi, como conta, ''histérica, nervosa, impaciente, ansiosa'', entre outros adjetivos comuns para pessoas dominadas pela competição capitalista, hoje ela aprecia e dá valor a cada momento simples da vida. ''O mundo é mágico. Precisamos enxergar tudo o que acontece como uma possibilidade de crescimento, procurando aprender inclusive com os episódios mais tristes e difíceis'', afirma.
Para ela, até de sentimentos negativos podemos tirar proveito. ''Devemos trabalhá-los procurando canalizar a emoção que proporcionam para atitudes positivas'', diz ela, que apesar de bem mais tranqüila, jura que não perdeu a intensidade com que realiza suas atividades diárias.
Achala, que trabalha com grupos de meditação e autoconhecimento no centro Namastê, acredita tanto na melhora de sua qualidade de vida que se autodelegou uma missão: ''Procuro ser uma agente de mudanças no mundo, pois não podemos nos ausentar dos problemas que existem. Gosto de fazer com que as pessoas sejam mais felizes e vivam mais em paz com elas mesmas. Assim, dou minha contribuição para mudanças de vida, que podem ser individuais ou para a sociedade como um todo'', diz.
Leonardo Boff, um crítico severo da cultura que predomina no mundo, não poupa certas formas de busca de autoconhecimento na hora de definir o papel da inteligência espiritual. ''Valoriza-se o que pode ser desfrutado e consumido imediatamente. Há uma oferta de todos os tipos de produto para preencher as carências que todo ser humano possui, mas esse não é o caminho. Transcendemos quando procuramos melhorar, crescer e abrir novos horizontes. Além de recomeçar. Sempre'', ensina.
Quem pode deter os tsunamis, furacões, terremotos e tempestades? Boff responde à própria pergunta sem titubear. ''Nem Bush com toda a sua arrogância.'' Fenômenos naturais como os que vêm assolando o mundo são exemplos para vermos como a vida é efêmera e o ser humano é pequeno diante do universo.
O lado prático
Por ser uma expressão teoricamente nova e sem um significado completamente definido, o conceito de ''inteligência espiritual'' conta com diferentes interpretações. Em seu livro Inteligência espiritual (ed. Mauad), a escritora Maria Nunes atribui à expressão características práticas - com uma pitada de psicologia -, fugindo da espiritualidade, mas sem abandonar a idéia do autoconhecimento.
Para a autora, a inteligência espiritual ajuda a compreender e a conviver com fenômenos que ocorrem em nossas vidas e que, segundo ela, não têm explicação lógica. Entre eles, sonhos lúcidos, coincidências, clarividência, premonição, telepatia e o tão corriqueiro déjà vu.
''O pressentimento é um deles. É algo que vem de forma inesperada, não programada. É fruto de uma intuição. Onde entra a inteligência espiritual? No discernimento, na tomada de decisão sobre a crença ou não nesse presságio. Conforme a pessoa desenvolve a capacidade intelectual do espírito, ela será mais capaz de fazer essa distinção.''
Entre as maneiras de atingir esse estado de consciência, a escritora destaca atitudes como evitar reações automáticas e cultivar o silêncio.
Objetivos
* Conseguir dar um ''tom sagrado'' a pequenas coisas da vida
* Não se deixar abater facilmente e tirar lições positivas sempre, até de fatos ruins
* Buscar um estado constante de bom humor
* Ser otimista até em situações adversas
* Assumir a culpa por suas ações, sem se colocar em posição de vítima
* Ter capacidade de transcendência, ou seja, de superar limites
* Buscar atitudes nobres como perdão, compaixão, humildade, gratidão e solidariedade
* Transformar sentimentos negativos em atitudes positivas. Por exemplo: usar a raiva como fator de motivação
* Evitar o apego a bens materiais e amar mais os seres humanos
* Buscar sempre o autoconhecimento
Fonte: artigo publicado no Jornal do Brasil de 15 de janeiro de 2005.
AUTORIA: recebi e-mail da Maria Nunes que informou a fonte do texto e explicou "Especificamente a referência a meu trabalho foi O LADO PRÁTICO."
[Imagem: Creative Studio, "Heart Mandala"]
domingo, 12 de setembro de 2010
