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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Em busca da sabedoria

buscasabedoria-Heart-Mandala.jpg Desenvolver o que se chama de inteligência espiritual é um grande passo rumo à paz de espírito Alcançar o sentimento de felicidade alheio às condições financeiras e circunstâncias da vida. Uma tarefa aparentemente impossível, não é? Não. Pelo menos para quem cultiva uma inteligência que vai além do raciocínio lógico, do conhecimento científico e de outros parâmetros que costumam medir o intelecto humano. Trata-se de desenvolver a chamada inteligência espiritual, uma faculdade difícil de ser alcançada, mensurada ou definida, mas que começa a ser pensada como uma ferramenta de transcendência do espírito, sustentada pela fé - seja ela religiosa ou não -, em que se percebe o quão rico é o universo e que o apego a pequenas coisas pode impedir a concretização de uma vida mais leve e feliz. À primeira vista, parece conversa de maluco. Mas basta o convívio - ou um mero contato - com quem vive uma busca constante pelo autoconhecimento e por meios de apreciar cada detalhe da existência, para questionar esse rótulo e perceber que de loucos eles não têm nada. Dalai Lama, Mahatma Gandhi e São Francisco de Assis são exemplos de gente que soube traçar um caminho em busca da espiritualidade. Mas não é preciso ser um mito para ser admirável. A inteligência espiritual independe de classe social, raça, religião ou profissão. A atriz paulista Odete Lara, musa da bossa nova e do Cinema Novo, escandalizou o Brasil ao fazer sexo com Norma Bengell no filme Noite Vazia, de Walter Hugo Khoury, em 1964. Uma cena polêmica que incomodou os moralistas da época e encheu os homens de desejo. Apesar do sucesso que fazia, Odete não se sentia realizada. ''Minha vida era agitada, cheia de correria, voltada unicamente para o trabalho. Seguia um ritmo baseado na competição que normalmente impera nos grandes centros urbanos. Eu não era feliz. Só conhecia a falta de sossego e a ansiedade.'' Aos poucos, a então atriz começou a procurar outras formas de ser e de viver. Com muita leitura e travando contato com pessoas que buscavam tanto quanto ela a paz de espírito, Odete se transformou. Largou a carreira em 1974 e hoje vive em um sítio em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio. Convertida ao zen-budismo, mantém uma rotina simples e pacata, porém bem mais agradável. ''Tenho o hábito de cuidar da qualidade da minha alimentação, faço exercícios de ioga, caminho e medito diariamente'', conta. Apenas uma coisa a entristece. ''O sistema voltado unicamente para o lucro, que reina no mundo e causa tanta injustiça e, conseqüentemente, violência. Não fosse isso, minha felicidade seria total''. A prática da meditação realmente parece ser um grande instrumento para alcançar esse estágio de transcendência, desapego material e autoconhecimento. Mas, não é necessário ser budista como Odete para desenvolver uma ''alma inteligente''. A fé, seja em Deus, Alá ou em uma força superior ''não nominada'' leva a uma conexão com o inexplicável e ajuda o ser humano a entender o que não é palpável nem óbvio. Ajuda a preencher, por exemplo, o vazio deixado pela falta de respostas para famosas questões como ''quem somos?'', ''de onde viemos?'', ''para onde vamos?''. ''Ter fé é possuir a capacidade de lidar com a vida e com o que ela nos oferece e propõe. A gente deve aprender a apreciar isso tudo'', ensina o rabino Nilton Bonder, autor do livro Fronteiras da Inteligência - A Sabedoria da Espiritualidade (ed. Campus). Assim como Bonder, o antropólogo Leonardo Boff acredita no poder das religiões para atingir a inteligência espiritual, já que são expressões claras e ferramentas de transcendência. ''Por caminhos diferentes, todas as religiões querem dizer que o ser humano não é refém deste mundo. No Brasil, é lindo o fato de nós não nos fixamos em uma só expressão de religiosidade. Incorporamos várias, como a católica, a evangélica, a budista, a tradição afro-brasileira do candomblé, o santo daime, entre outras'', exemplifica Boff, autor de Tempo de Transcendência (ed. Sextante). O antropólogo explica que essa transcendência é a capacidade que o ser humano tem de superar os limites impostos. Não em termos materiais, mas na construção de um pensamento infinito, que ultrapassa as barreiras. ''Esse termo define o homem como aquele que está no mundo e no universo, mas que não pode ser aprisionado. Somente o infinito sacia sua busca sem fim'', completa. Apesar de concordarem com o papel positivo que a prática religiosa pode desempenhar na busca pela espiritualidade, Leonardo Boff e Nilton Bonder alertam para o risco da má interpretação ou da ignorância. ''Todas as religiões incorporam não apenas limitações, mas também equívocos e erros. Por exemplo, dificilmente se nota a espiritualidade numa religião que rebaixa a mulher ou despreza minorias, como os homossexuais. Devemos sempre, a partir da transcendência, submeter todas as religiões a uma crítica severa. Verificar se elas favorecem esta experiência ou se a dificultam'', ressalta Boff, expulso da Igreja Católica por ir de encontro a certos paradigmas da instituição. Bonder também faz seu alerta. ''É preciso ter cuidado com as tradições religiosas, porque elas também podem ser uma forma de preencher a ignorância apenas para gerar dominação e superstição'', pondera o rabino. Ma Prem Achala, que se chamava Rosana San Juan e era uma típica workaholic, parece já ter entendido esses recados. Se durante uma época ela foi, como conta, ''histérica, nervosa, impaciente, ansiosa'', entre outros adjetivos comuns para pessoas dominadas pela competição capitalista, hoje ela aprecia e dá valor a cada momento simples da vida. ''O mundo é mágico. Precisamos enxergar tudo o que acontece como uma possibilidade de crescimento, procurando aprender inclusive com os episódios mais tristes e difíceis'', afirma. Para ela, até de sentimentos negativos podemos tirar proveito. ''Devemos trabalhá-los procurando canalizar a emoção que proporcionam para atitudes positivas'', diz ela, que apesar de bem mais tranqüila, jura que não perdeu a intensidade com que realiza suas atividades diárias. Achala, que trabalha com grupos de meditação e autoconhecimento no centro Namastê, acredita tanto na melhora de sua qualidade de vida que se autodelegou uma missão: ''Procuro ser uma agente de mudanças no mundo, pois não podemos nos ausentar dos problemas que existem. Gosto de fazer com que as pessoas sejam mais felizes e vivam mais em paz com elas mesmas. Assim, dou minha contribuição para mudanças de vida, que podem ser individuais ou para a sociedade como um todo'', diz. Leonardo Boff, um crítico severo da cultura que predomina no mundo, não poupa certas formas de busca de autoconhecimento na hora de definir o papel da inteligência espiritual. ''Valoriza-se o que pode ser desfrutado e consumido imediatamente. Há uma oferta de todos os tipos de produto para preencher as carências que todo ser humano possui, mas esse não é o caminho. Transcendemos quando procuramos melhorar, crescer e abrir novos horizontes. Além de recomeçar. Sempre'', ensina. Quem pode deter os tsunamis, furacões, terremotos e tempestades? Boff responde à própria pergunta sem titubear. ''Nem Bush com toda a sua arrogância.'' Fenômenos naturais como os que vêm assolando o mundo são exemplos para vermos como a vida é efêmera e o ser humano é pequeno diante do universo. O lado prático Por ser uma expressão teoricamente nova e sem um significado completamente definido, o conceito de ''inteligência espiritual'' conta com diferentes interpretações. Em seu livro Inteligência espiritual (ed. Mauad), a escritora Maria Nunes atribui à expressão características práticas - com uma pitada de psicologia -, fugindo da espiritualidade, mas sem abandonar a idéia do autoconhecimento. Para a autora, a inteligência espiritual ajuda a compreender e a conviver com fenômenos que ocorrem em nossas vidas e que, segundo ela, não têm explicação lógica. Entre eles, sonhos lúcidos, coincidências, clarividência, premonição, telepatia e o tão corriqueiro déjà vu. ''O pressentimento é um deles. É algo que vem de forma inesperada, não programada. É fruto de uma intuição. Onde entra a inteligência espiritual? No discernimento, na tomada de decisão sobre a crença ou não nesse presságio. Conforme a pessoa desenvolve a capacidade intelectual do espírito, ela será mais capaz de fazer essa distinção.'' Entre as maneiras de atingir esse estado de consciência, a escritora destaca atitudes como evitar reações automáticas e cultivar o silêncio. Objetivos * Conseguir dar um ''tom sagrado'' a pequenas coisas da vida * Não se deixar abater facilmente e tirar lições positivas sempre, até de fatos ruins * Buscar um estado constante de bom humor * Ser otimista até em situações adversas * Assumir a culpa por suas ações, sem se colocar em posição de vítima * Ter capacidade de transcendência, ou seja, de superar limites * Buscar atitudes nobres como perdão, compaixão, humildade, gratidão e solidariedade * Transformar sentimentos negativos em atitudes positivas. Por exemplo: usar a raiva como fator de motivação * Evitar o apego a bens materiais e amar mais os seres humanos * Buscar sempre o autoconhecimento Fonte: artigo publicado no Jornal do Brasil de 15 de janeiro de 2005. AUTORIA: recebi e-mail da Maria Nunes que informou a fonte do texto e explicou "Especificamente a referência a meu trabalho foi O LADO PRÁTICO." [Imagem: Creative Studio, "Heart Mandala"]

Posted by Lilia at agosto 10, 2005 10:15 AM

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EU SOU SIMPLESMENTE LINA.

PRECONCEITO

MEUS AMIGOS Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril. Oscar Wilde