Translate

domingo, 12 de setembro de 2010

O que é amor Platônico? O amor platônico é uma fantasia ou seja, ele não existe. Ele é uma atração espiritual O amor platônico”. Comumente entende-se por ser aquele amor no qual, em primeiro plano, não se encontra a cobiça sexual, mas antes, uma atração espiritual. Mas porque ele levaria o nome de Platão? De fato, folheando a obra de Platão, em parte alguma se encontram sinais de respeito às mulheres. Pelo contrário, afirma que são bem menos virtuosas que os homens, superficiais, pusilâmines, traiçoeiras e supersticiosas. Aqueles homens que tivessem sido covardes e injustos , após a morte, como punição, renasceriam mulheres. O casamento não passa da tarefa de produzir uma descendência. Assim, Platão não nos oferece uma imagem romântica do amor entre homem e mulher. Na Grécia daquela época, mais que entre homem e mulher, havia ainda uma outra espécie de relação amorosa: a relação de um homem mais velho com um rapaz. Sócrates, seu mestre, ininterruptamente procura o trato com belos rapazes. Mas o relacionamento de Sócrates com os adolescentes não é da espécie usual de relação amorosa. Ai podemos ver algo do que significa “o amor platônico”. Em "O Banquete", isso é expresso no discurso que o jovem Alcebíades profere para Sócrates. Aquele amor que, com plena intensidade, dirige-se ao outro, mas que simultaneamente se contém, aquele “amor platônico”, portanto, está intimamente ligado ao modo de ser de Sócrates como praticante da filosofia e ao modo como Platão, então, concebe a essência da filosofia: como sendo essencialmente amor. A experiência de Alcebíades com Sócrates mostra que o amor filosófico não é o amor sensual. E a essência desse amor seria a saudade do belo, pois isso é que de fato é eterno no homem. Dessa forma, portanto, torna-se claro o sentido mais profundo do “amor platônico”; que não consiste tão somente na repressão da cobiça sensual, em vez disso, concede-lhe a essa seus direitos limitados, mas os exalta a uma forma mais elevada de desejo, para além da beleza dos corpos, das almas, da condução da vida e do conhecimento: o “amor platônico” insta pela beleza em si mesma. O amor consiste na aspiração pelo arquétipo do belo, do qual tudo o que é belo participa, ou seja, na aspiração pela idéia do belo. Assim, o “amor platônico” está estreitamente relacionado com a grandiosa realização do pensamento de Platão que entraria para a consciência do espírito ocidental: sua doutrina das idéias. Em suas reflexões, Platão descobre que o homem sabe desde sempre, originariamente, o que é justiça e o que são as outras virtudes. Ele traz em sua alma a idéia de todos esses retos modos do comportamento, os quais podem e devem determinar a sua ação. Mas essa conexão entre realidade e idéia não diz respeito apenas ao campo da ação humana. Também o que seja uma árvore só o sabemos desde que tenhamos em nós a idéia da árvore. O conhecimento da realidade total só se torna possível quando o homem possui em sua alma arquétipos de tudo o que é, podendo então dizer: isto é uma árvore, aquilo é um animal; isto é um crime, aquilo é uma boa ação. Isso significa que todo o real é o que é enquanto participa de seu arquétipo e enquanto aspira a tornar-se semelhante a ele. A árvore quer ser tanto quanto possível árvore; o homem, tanto quanto possível homem; a justiça, tanto quanto possível, justiça. O mundo é um lugar de incessante ímpeto pela perfeição, de amor pela idéia, pois as idéias são o real imaginário. As coisas são meras cópias das idéias e, portanto, de diminuto grau de realidade. As idéias estão livres de toda a transitoriedade. O conhecimento das idéias tem de ser atribuído ao homem antes de sua existência temporal, em uma existência anterior ao nascimento. Quando reconhece uma coisa, isso significa que o homem se lembra de uma contemplação originária dessa idéia, a qual precisa ter ocorrido antes de sua existência temporal. Portanto, conhecer é relembrar. Assim, a teoria da idéia conduz necessariamente à suposição de uma preexistência da alma e a certeza da imortalidade. Dessa existência anterior, fala-nos Platão através do diálogo Fedro, a qual deixa no homem, por toda sua vida, uma certa nostalgia. O filósofo, por sua natureza, aspira ao ser. A paixão daquele que filosofa é, portanto, a significação última do “amor platônico” e, sem ela, não haveria nenhuma procura verdadeira pelo eterno. (cf.: WEISCHEDEL, Wilhelm. Platão ou o amor filosófico. In: A escada dos fundos da filosofia. 5. ed. Trad. Edson Dognaldo Gil. São Paulo: Ed. Angra, 2006. p. 47-57.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Powered By Blogger

EU SOU SIMPLESMENTE LINA.

PRECONCEITO

MEUS AMIGOS Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril. Oscar Wilde