O que é amor Platônico?
O amor platônico é uma fantasia ou seja, ele não existe. Ele é uma atração espiritual O amor platônico”. Comumente entende-se por ser aquele amor no qual, em primeiro plano, não se encontra a cobiça sexual, mas antes, uma atração espiritual. Mas porque ele levaria o nome de Platão? De fato, folheando a obra de Platão, em parte alguma se encontram sinais de respeito às mulheres. Pelo contrário, afirma que são bem menos virtuosas que os homens, superficiais, pusilâmines, traiçoeiras e supersticiosas. Aqueles homens que tivessem sido covardes e injustos , após a morte, como punição, renasceriam mulheres. O casamento não passa da tarefa de produzir uma descendência. Assim, Platão não nos oferece uma imagem romântica do amor entre homem e mulher. Na Grécia daquela época, mais que entre homem e mulher, havia ainda uma outra espécie de relação amorosa: a relação de um homem mais velho com um rapaz. Sócrates, seu mestre, ininterruptamente procura o trato com belos rapazes. Mas o relacionamento de Sócrates com os adolescentes não é da espécie usual de relação amorosa. Ai podemos ver algo do que significa “o amor platônico”. Em "O Banquete", isso é expresso no discurso que o jovem Alcebíades profere para Sócrates. Aquele amor que, com plena intensidade, dirige-se ao outro, mas que simultaneamente se contém, aquele “amor platônico”, portanto, está intimamente ligado ao modo de ser de Sócrates como praticante da filosofia e ao modo como Platão, então, concebe a essência da filosofia: como sendo essencialmente amor. A experiência de Alcebíades com Sócrates mostra que o amor filosófico não é o amor sensual. E a essência desse amor seria a saudade do belo, pois isso é que de fato é eterno no homem. Dessa forma, portanto, torna-se claro o sentido mais profundo do “amor platônico”; que não consiste tão somente na repressão da cobiça sensual, em vez disso, concede-lhe a essa seus direitos limitados, mas os exalta a uma forma mais elevada de desejo, para além da beleza dos corpos, das almas, da condução da vida e do conhecimento: o “amor platônico” insta pela beleza em si mesma. O amor consiste na aspiração pelo arquétipo do belo, do qual tudo o que é belo participa, ou seja, na aspiração pela idéia do belo. Assim, o “amor platônico” está estreitamente relacionado com a grandiosa realização do pensamento de Platão que entraria para a consciência do espírito ocidental: sua doutrina das idéias. Em suas reflexões, Platão descobre que o homem sabe desde sempre, originariamente, o que é justiça e o que são as outras virtudes. Ele traz em sua alma a idéia de todos esses retos modos do comportamento, os quais podem e devem determinar a sua ação. Mas essa conexão entre realidade e idéia não diz respeito apenas ao campo da ação humana. Também o que seja uma árvore só o sabemos desde que tenhamos em nós a idéia da árvore. O conhecimento da realidade total só se torna possível quando o homem possui em sua alma arquétipos de tudo o que é, podendo então dizer: isto é uma árvore, aquilo é um animal; isto é um crime, aquilo é uma boa ação. Isso significa que todo o real é o que é enquanto participa de seu arquétipo e enquanto aspira a tornar-se semelhante a ele. A árvore quer ser tanto quanto possível árvore; o homem, tanto quanto possível homem; a justiça, tanto quanto possível, justiça. O mundo é um lugar de incessante ímpeto pela perfeição, de amor pela idéia, pois as idéias são o real imaginário. As coisas são meras cópias das idéias e, portanto, de diminuto grau de realidade. As idéias estão livres de toda a transitoriedade. O conhecimento das idéias tem de ser atribuído ao homem antes de sua existência temporal, em uma existência anterior ao nascimento. Quando reconhece uma coisa, isso significa que o homem se lembra de uma contemplação originária dessa idéia, a qual precisa ter ocorrido antes de sua existência temporal. Portanto, conhecer é relembrar. Assim, a teoria da idéia conduz necessariamente à suposição de uma preexistência da alma e a certeza da imortalidade. Dessa existência anterior, fala-nos Platão através do diálogo Fedro, a qual deixa no homem, por toda sua vida, uma certa nostalgia. O filósofo, por sua natureza, aspira ao ser. A paixão daquele que filosofa é, portanto, a significação última do “amor platônico” e, sem ela, não haveria nenhuma procura verdadeira pelo eterno. (cf.: WEISCHEDEL, Wilhelm. Platão ou o amor filosófico. In: A escada dos fundos da filosofia. 5. ed. Trad. Edson Dognaldo Gil. São Paulo: Ed. Angra, 2006. p. 47-57.)
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